segunda-feira, novembro 15, 2010

A depressão e a loucura

Muitas vezes eu vi na televisão reportagens sobre as chamadas psicopatias, ou melhor, doenças psicológicas... Eu ficava vendo tantas pessoas que pareciam só precisarem acordar para este lado da vida. Aquele sentimento, muito egoísta, é verdade, que o problema do outro é tão pequeno e fácil de ser resolvido, principalmente quando comparado com os seus. E quando a doença está no funcionamento dos neurônios, as coisas ficam mais complicadas ainda, simplesmente porque não se vê. É fácil entender a dor de um muleque com o joelho ralado, mas quando o machucado tá dentro da cachola, aí que o bicho pega.
Eu estava no sétimo período. Começavam as aulas da disciplina mais difícil da faculdade, Anestesiologia e Técnica Cirúrgica. Essa coisa de terror em cima das matérias nunca foi muito creditada por mim, eu sempre acreditei bastante no meu taco e sabia que se eu estudasse eu passaria, assim como sempre foi. Mas não foi bem assim que tudo aconteceu. Os professores gostavam de fazer terror e desestabilizar os alunos. Estudei muito para a primeira prova, mas um assunto deixei de estudar pois não sabia que cairia. E caiu. Caiu como uma jaca na minha cabeça, me arrasando. E o professor, muito bonzinho, botou a questão valendo um zilhão de pontos. O resultado foi um catastrófico 4,5 na primeira nota. Desesperei e, o pior, desestabilizei. A primeira matéria era muito mais fácil que a da segunda prova e eu teria que tirar um 7,5 pra passar. Mas você pode estar pensando: ok, mas tem a prova final uai! O problema é que eu não considero a prova final. Minha auto-cobrança é tão elevada que era o maior dos absurdos fazer uma final, seria mais ou menos minha vida jogada no lixo, o fracasso puro e completo. E aí você começa a desenhar na sua cabeça o que é uma psicopatia. Além disso, se eu não passasse significaria não ficar mais com os meus queridos amigos, atrasar mais um semestre na faculdade, estudar tudo de novo, embolar meus horários... Então comecei a estudar com 1 mês e meio para a prova. Na faculdade os professores faziam seu terror e eu comecei a ter um tipo de desespero diferente. Uma disparada dos batimentos, pouco sono... No dia de buscar a nota levei minha mãe, até para ela me ajudar a brigar por pontos, caso eu não passasse. Mas eu passei com os pontos certinhos e foi um dos maiores alívios que eu já senti.
O que eu não sabia era que eu ia para o oitavo período com uma mega cicatriz, uma lesão super profunda que poderia, a qualquer momento, virar ferida de novo.
Dividi o oitavo e a primeira parte fui bem e tranquilo. Na segunda, eu me encontrei novamente com a cirurgia. Dessa vez eu pisei na bola. Fui para a primeira prova achando que seria fácil e estudei pouco. Tirei 3,5. Este foi o início do inferno. Quando vi a correção, percebi que uma das professoras (eram milhões pra mesma matéria) cobrava as coisas exatamente como estavam escritas na apostila que ela dava. Lógico, tinha que ser, afinal, ela dava aula lendo aquela bosta e nunca saberia formular e muito menos corrigir uma prova inteligente. Eu nunca tive memória boa e a idéia de depender dela para passar já era um terror. Há muito tempo atrás, eu tinha a plena certeza de que se eu desse meus 100% era capaz de conseguir qualquer coisa. Mas nessa matéria eu precisaria decorar, eu dependia do meu ponto fraco. A minha auto-confiança foi pro pé. E tudo foi piorando a medida que o semestre passava e eu tentava estudar. Além do desespero de decorar uma apostila, eu ainda sofria com o nojo absurdo que eu sentia por aquela disciplina sabe. A tal da professora que dava aula lendo era uma anta, burra de verdade, aquela mal-comida que achou nos alunos um jeito de se vingar de toda a vida desprezível que teve. O pior era o arzinho de superior, o jeito esnobe que ela forçava... argh! Estudei muito pra prova, mas desta vez dei mais que 100%. Entrei no desespero, emagreci 5 quilos em 2 semanas, tinha diarréia, não parava de chorar... Na noite anterior a prova, pedi pra minha mãe dormir comigo. Me agarrei nela a noite toda e não parei de tremer. Não dormi. Quando acordei, vomitei, chorei muito... Tirei 8,1. Não tinha recuperado totalmente a nota, mas faltava a última prova. E tudo continuou até que eu pensei "cara, se eu não procurar uma ajuda eu vou morrer!". Foi aí que eu contatei um irmão de uma amiga minha, psiquiatra, que diagnosticou a depressão. Ele me passou tranquilizantes e anti-depressivo. O pai do Patrick também é médico e ajustou a medicação de forma que ele pudesse me fornecer os remédios de graça, por amostra-grátis. E aí comecei a me tratar. Consegui virar o jogo, aos poucos o anti-depressivo foi fazendo efeito e, nossa, me sentia tããããão bem! Esse remédio é bom demais, a sensação que ele causa é ótima... mas pena que é um remédio e não pode ser usado a tôa... mas enfim, com o tratamento, eu baixei minha ansiedade e consegui raciocinar. Criei o método mais bizarro de cola do universo e usei a mesma sacanagem que a professora anta usava, colei a prova inteirinha! Resultado: 9,8. Passei com boa nota e deixei aquela corja pra trás. Não acho que a cola é uma coisa maravilhosa. Mas quando se trata de uma matéria que só cobra decoreba, eu colo mesmo porque eu acho muito fácil pro professor pedir uma lista de coisas que ele botou na apostila. Isso é pura preguiça ou burrice de não conseguir formular perguntas de raciocínio.
Um dia eu gostaria de falar para esses professores sobre o mal que eles me fizeram. Não foi a prova, nem a matéria, mas todo o contexto de terror, de descaso com o que o aluno está sentindo. Cara, e se eu tivesse morrido? Eles carregariam o carma de serem responsáveis por uma morte! Não estou exagerando não, eu sofri muito, passei muito mal, estava emagrecendo aceleradamente... E não terminou aí. Esses eventos deixaram uma marca em mim e até hoje passo mal com prova, só durmo com calmantes... Eu NUNCA fui assim, nunca sofri por causa de prova, muito pelo contrário, eu ficava tranquilíssima enquanto os outros se descabelavam. Essas pessoas me deixaram uma marca, e provavelmente fazem isso com outros alunos.